segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A igreja Católica realmente foi obscura para a ciência? - Eduardo C. Feltraco


       Quero começar aqui expressando a minha defesa da igreja, em seu período construtivo, atenuando minha denominação Protestante, em não fazer rixas por eu ser um Evangélico, se algum Católico se incomodar, saiba, estou defendendo os princípios de Cristo, e a importância da religião para a ciência. Caso não se sentirem satisfeitos, lembrem-se: não existe fé católica ou fé protestante, a única fé devida, é no Senhor e Salvador Jesus Cristo. Vamos ao ponto...

A primeira Universidade do mundo Ocidental foi a de Bolonha (1158), na Itália, que teve a sua origem na fusão da escola episcopal com a escola monacal camaldulense de São Félix. Em 1200 Bolonha tinha dez mil estudantes (italianos, lombardos, francos, normandos, provençais, espanhóis, catalães, ingleses germanos, etc.). A segunda, e que teve maior fama foi a Universidade de Paris, a Sorbone, que surgiu da escola episcopal da Catedral de Notre Dame. Foi fundada pelo confessor de S. Luiz IX, rei de França, Sorbon. Ali foram estudar muitos grandes santos como Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Tomás de Aquino. A universidade de Paris (Sorbonne) era chamada de “Nova Atenas” ou o “Concílio perpétuo das Gálias”, por ser especialmente voltada à teologia.

O documento mais antigo que contém a palavra “Universitas” utilizada para um centro de estudo é uma carta do Papa Inocêncio III ao “Estúdio Geral de Paris”. A universidade de Oxford, na Inglaterra surgiu de uma escola monacal organizada como universidade por estudantes da Sorbone de Paris. Foi apoiada pelo Papa Inocêncio IV (1243-1254) em 1254.

Em 1499, o Cardeal Cisneros fundou a famosa universidade “Complutense” mediante a Bula Pontifícia concedida pelo Papa Alexandre VI. Nos anos de 1509-1510 já funcionavam cinco Faculdades: Artes e Filosofia, Teologia, Direito Canônico, Letras e Medicina.

Até 1440 foram erigidas na Europa 55 Universidades e 12 Institutos de ensino superior, onde se ministravam cursos de Direito, Medicina, Línguas, Artes, Ciências, Filosofia e Teologia. Todos fundados pela Igreja. O Papa Clemente V (1305-1314) no Concilio universal de Viena em 1311, mandou que se instaurassem nas escolas superiores cursos de línguas orientais (hebreu, caldeu, árabe, armênio, etc.), o que em breve foi feito também em Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca e Roma.

A atual Universidade de Roma, La Sapienza – onde tristemente estudantes e professores impediram o Papa Bento XVI de proferir a aula inaugural em 2008 – foi fundada há sete séculos, em 1303, pelo Papa Bonifácio VIII (1294-1303), com o nome de “Studium Urbis”.

Das 75 Universidades criadas de 1500, 47 receberam a Bula papal de fundação, enquanto muitas outras, que surgiram espontaneamente ou por decisão do poder secular, receberam em seguida a confirmação pontifícia, com a concessão da Faculdade de Teologia ou de Direito Canônico. (Sodano, 2004).

Só na França havia uma dezena de universidades: Montepellier (1125), Orleans (1200), Toulouse (1217), Anger (1220), Gray, Pont-à-Mousson, Lyon, Parmiers, Norbonne e Cabors. Na Itália: Salerno (1220), Bolonha (1111), Pádua, Nápoles e Palerno. Na Inglaterra: Oxford (1214), nascida das Abadias de Santa Frideswide e de Oxevey, Cambridge. Além de Praga na Boêmia, Cracóvia (1362), Viena (1366), Heidelberg (1386). Todas fundadas pela Igreja. Como dizer que a Idade Média cristã foi uma longa “noite escura” no tempo? As universidades medievais foram centros de intensa vida intelectual, onde os grandes homens se enfrentavam em discussões apaixonadas nos grandes problemas. E a fé era o fermento que fazia a cultura crescer. As universidades atraíam multidões de estudantes, da Alemanha, Itália, Síria, Armênia e Egito. Vinham para a de Paris chegavam a 4000, cerca de 10% da população.
                Para fundamentar brevemente, quero enfatizar sobre o método científico e seu tripé, o qual deve estar sendo um fato, sempre respeitando o método empírico na filosofia da ciência. Pois como Descartes nos trouxe o método cartesiano, o que foi importante para a ciência hoje, a dúvida metódica de nos fazer pensar que o real científico é um fato, o que é de menos tem de haver seu oposto à ser mais, não há positivo sem existir negativo, somos imperfeitos, logo é necessário nesse método existir um Ser Perfeito.

Ciência é um conjunto de conhecimentos empíricosteóricos e práticos sobre a natureza, produzido por uma comunidade global de pesquisadores fazendo uso do método científico, que dá ênfase à observação, explicação e predição de fenômenos reais do mundo através de experimentos. Dada a natureza dual da ciência como um conhecimento objetivo e como uma construção humana, a historiografia da ciência usa métodos históricos tanto da história intelectual como da história social. Traçar as exatas origens da ciência moderna se tornou possível através de muitos importantes textos que sobreviveram desde o mundo clássico. Entretanto, a palavra cientista é relativamente recente - inventada por William Whewell no século XIX.

Anteriormente, as pessoas investigando a natureza chamando a si mesmas de filósofos naturais. Enquanto as investigações empíricas do mundo natural foram descritas desde a antiguidade clássica (por exemplo, por Tales de Mileto e Aristóteles); o método científico ter sido usado desde a Idade MédiaRobert Grosseteste e Jean Buridan o surgimento da ciência moderna é geralmente traçado até a Idade Moderna, durante o que é conhecido como Revolução Científica que aconteceu nos séculos XVI e XVII na Europa.

Métodos científicos são considerados como sendo fundamentais para a ciência moderna que alguns - especialmente os filósofos da ciência e cientistas - consideram investigações antigas da natureza como sendo pré-científica. Tradicionalmente, historiadores da ciência têm definido ciência sendo suficientemente abrangente para incluir essas investigações.

Galileu Galilei (1564 — 1642) é o fundador da ciência moderna e o teórico do método científico e da autonomia da pesquisa cientifica. O método científico de Galileu está contido especialmente em duas obras: “O ensaiador”, que dedicou a seu admirador e amigo o papa Urbano VIII, publicado em 1623. E, nos “Discursos e demonstrações matemáticas sobre duas novas ciências”, de 1638. Francis Bacon (1561 — 1626) Mostrou a importância da experimentação para a aquisição dos conhecimentos científicos;

Assim descreveu João Paulo II, na Fides et Ratio (1998, n. 91), o cenário pós-moderno: As correntes de pensamento que fazem referência à pós-modernidade merecem adequada atenção. Segundo algumas delas, de fato, o tempo das certezas teria irremediavelmente passado, o homem deveria finalmente aprender a viver num horizonte de ausência total de sentido, sob o signo do provisório e do efêmero. Muitos autores, na sua crítica demolidora de toda a certeza e ignorando as devidas distinções, contestam inclusivamente as certezas da fé. Mesmo em meio a este contexto, a postura da Igreja Católica diante das ciências é de apreço e entendimento.

Vejamos o que nos diz o Concílio Vaticano II (GS 44): A experiência dos séculos passados, o progresso das ciências, os tesouros escondidos nas várias formas da cultura humana, pelos quais a natureza do próprio homem se manifesta mais plenamente e se abrem novos caminhos para a verdade, são úteis também à Igreja. O mesmo Concílio defende a justa autonomia das realidades terrestres, afastando qualquer temor neste campo. Dedica, para isso, uma atenção especial com as seguintes palavras:  Se por autonomia das realidades terrestres entendemos que as coisas criadas e as mesmas sociedades gozam de leis e valores próprios, a serem conhecidos, usados e ordenados gradativamente pelo homem, é necessário absolutamente exigi-la. Isto não é só reivindicado pelos homens de nosso tempo, mas está também de acordo com a vontade do Criador. Pela própria condição da criação, todas as coisas são dotadas de fundamento próprio, verdade, bondade, leis e ordem específicas. O homem deve respeitar tudo isto, reconhecendo os métodos próprios de cada ciência e arte. Portanto, se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica e segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus. Mais ainda: Aquele que tenta perscrutar com humildade e perseverança os segredos das coisas, ainda que disto não tome consciência, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo que elas sejam o que são [...] (CONCÍLIO VATICANO II, GS 36).

A finalidade principal da ciência é a busca da verdade [...], uma busca que deve ser livre diante dos poderes políticos e econômicos; a verdade científica, portanto, é como qualquer outra verdade, devedora somente a si mesma e à suprema Verdade que é Deus criador do homem e de todas as coisas (JOÃO PAULO II apud BENTO XVI, 2010, p. 23-24).

O Papa Bento XVI propõe, por sua vez, uma renovada relação entre fé e ciência, uma relação de autonomia e distinção. Lembra, no entanto, que “distinção não significa separação ou estranhamento, significa que a distinção entre os campos do saber não é entendida como oposição” (BENTO XVI, 2010, p. 50-51).

Existem pontos de encontro entre ambas. Tanto uma como a outra colaboram para o conhecimento, quer por meio das capacidades racionais quer por meio do crer a uma fonte que na fé cristã é o Deus Revelador e Comunicador. Existe uma contribuição que uma confere à outra e vice-versa. Para isso, Bento XVI (2010, p. 54) cita o Papa João Paulo II: “A ciência pode purificar a religião do erro e da superstição, a religião pode purificar a ciência da idolatria e dos falsos absolutos”. Deve haver sempre um cuidado para não cair em reducionismos. “Todo reducionismo epistemológico acaba num reducionismo antropológico”, lembra Bento XVI (2010, p. 55). É indispensável travar um diálogo entre ciência e fé, entre ciência e religião, além das trincheiras (Cf. AGOSTINI, 2010, p. 146-147). “Quando seus dados são bem compreendidos, longe de se opor, elas se completam harmoniosamente” (POUPARD, 1982, p. 11).

Cabe assumir sempre o princípio de humanidade (Cf. GUILLEBAUD, 2008), numa defesa da vida que, para os cristãos, está no centro da mensagem do próprio Evangelho. O diálogo com as ciências humanas pode ser altamente benéfico, já que não se deteria numa ideia apenas. Permanece, por isso, a possibilidade de aprisionamento na unilateralidade da razão, na medida em que esta busca a “construção de uma visão coerente, totalizante do universo, a partir de dados parciais, de uma visão parcial, ou de um princípio único”, segundo o que afirma Edgar Morin (1984, p. 205).

Outro aprisionamento é o de achar que, ao partir desta ou daquela ciência, “aquilo que seus instrumentos não conseguem apreender não existe” (MORIN, 1984, p. 54). “Necessário se faz que as ciências humanas rompam com o paradigma disjuntivo para dar conta de outras dimensões da realidade humana, igualmente significativas, como o não organizado, o cotidiano e as manifestações do imaginário, resgatando, assim, como sugere Goldmann, o seu aspecto filosófico” (LOURENÇO, 2000, p. 32) para poderem ser portadoras de verdade. Segundo Aristóteles, “todos os homens desejam saber” (apud JOÃO PAULO II, 1998, n. 25), sendo a verdade o objeto próprio desse desejo.

Nessa busca de saber mais, em direção à verdade, as ciências humanas podem trazer uma inestimável contribuição. A Psicologia nos faz adentrar na interioridade da pessoa e compreender melhor as suas potencialidades e os condicionamentos que nela subsistem. A Sociologia nos faz compreender o ser humano no seu contexto social e cultural e como realiza as suas opções. A Medicina desperta a nossa atenção para a vasta problemática da vida quer humana quer de todos os seres vivos, urgindo o desenvolvimento da Bioética. A Pedagogia aponta para o poder da educação e o desenvolvimento do humano. Ao ser anunciada hoje, a mensagem do Evangelho não pode descartar as categorias atuais advindas das ciências humanas e sociais (Cf. CONCÍLIO VATICANO II, GS 62).

Estas podem prestar um serviço à vocação teológico/espiritual e evangelizadora da Igreja. O clima é de diálogo, assim explicitado pelo Concílio Vaticano II (GS 62): Sejam suficientemente conhecidos e usados não somente os princípios teológicos, mas também as descobertas das ciências profanas, sobretudo da psicologia e da sociologia de tal modo que também os fiéis sejam encaminhados a uma vida de fé mais pura e amadurecida.

As ciências merecem uma atenção constante e mesmo necessária, pois o ser humano é o centro de interesse comum. A espiritualidade, junto com o todo da Teologia com suas áreas afins, é chamada a um encontro dialogal com as ciências humanas (e as demais também). Abre-se a possibilidade e mesmo a necessidade de um enriquecimento mútuo, sem abdicar da interpelação mútua.

Afugente-se qualquer pretensão de autossuficiência de qualquer das partes. Importa, para isso, abraçar sempre uma visão integral do ser humano, tendo como pano de fundo um paradigma integrador e humanizador (ANDRÉS, 1999, p. 16-18), aberto a todas as dimensões, incluindo a transcendência, num abraço de toda a criação.


          Minha conclusão é na verdade uma pergunta: a igreja Católica realmente foi tão ruim assim como muito ateus e até protestantes afirmam? Sei e afirmo também que a sua época da “sombra” foi terrível, não nego e nem fujo deste contexto, porém, nada que a prática do comunismo hoje e na antiguidade, não enterre todas as mortes feitas pelo clero. Contudo, que instituição ajudou e financiou mais a ciência que a igreja? De tamanha proporção, nenhuma. 

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