terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Cronobiologia e o ciclo semanal de sete dias - Everton F. Alves























Por Everton F. Alves
                                    
O organismo humano mantém o seu próprio relógio biológico. Ele possui um ‘ritmo circadiano’ interno de 24 horas que impulsiona o aumento e diminuição de moléculas nos diversos sistemas do nosso corpo [1]. Esse relógio também influencia a forma como reagimos aos remédios. Por exemplo, a cisplatina, medicamento contra o câncer, é mais eficaz e menos tóxico se for administrada à noite [2]. Adriamicina, por outro lado, é mais eficiente se for administrado de manhã. Outro fator conhecido é a necessidade que o ser humano tem de descanso. Nesse sentido, pesquisas afirmam a existência do ‘ciclo circaceptano’, um ritmo endógeno que exige um descanso a cada sete dias.

Ambos os tipos de ritmos biológicos são explicados pela Cronobiologia, um novo campo científico interdisciplinar [1]. Nele, os cientistas percorrem os caminhos dos ritmos e seus movimentos oscilatórios, sua ligação com o ambiente externo, como as informações são recebidas e transmitidas através de um mundo pulsante para uma melhor compreensão da natureza humana. Esta não é uma tarefa fácil, pois a maioria dos tique-taques de relógios biológicos é difícil de detectar; eles operam logo abaixo da consciência humana, escondida nas estruturas celulares.

Em relação ao ritmo circaceptano, especificamente, o cronobiólogo Jeremy Campbell diz que este é uma das grandes surpresas que surgiram pela cronobiologia moderna [3]. Há alguns anos atrás, poucos cientistas teriam esperado que ciclos biológicos de sete dias viessem a ser tão difundidos e estabelecidos. A origem desse ritmo é muito antiga, aparecendo em organismos unicelulares como as bactérias, afirma o autor. O fundador da cronobiologia, Franz Halberg, encontrou o ciclo de sete dias em uma alga primitiva (Acetabularia mediterranea) de supostos cinco milhões de anos na linha evolutiva de tempo [1]. Devido à semelhança de suas células microscópicas a uma taça de champanhe, a alga (planta) é popularmente conhecida como copo de vinho da sereia. Quando esta alga é exposta a horários artificiais alternados de luz e escuridão ao longo de muitos dias, ela é de alguma forma capaz de traduzir toda essa influência em medidas de sete dias.

A existência do ritmo circaceptano também foi observada em um estudo realizado nos Estados Unidos que acompanhou durante vários anos a excreção de metabólitos urinários em homens saudáveis [4]. Os resultados deste estudo demonstrou que a excreção urinária de metabólitos ocorreu em um período exato de sete dias, sugerindo que os ritmos circaceptanos são realmente endógenos e determinados geneticamente. Ao mesmo tempo, parece que esse ritmo de sete dias é capaz de responder aos reflexos circadianos do dia e da noite [4-5]. O transplante de órgãos em seres humanos, por exemplo, também é afetado pelo ritmo circaceptano [4]. Jeremy Campbell explica que quando um paciente recebe um transplante de rim, há um ritmo de cerca de sete dias, um aumento previsível na probabilidade de que o sistema imunológico do corpo rejeitará o novo rim. Um pico principal de rejeição ocorre sete dias após a operação, e quando um soro é dado para suprimir a reação imune, uma série de picos ocorre, com o aumento do risco de rejeição, em uma semana, duas, três e quatro semanas [3].

Ademais, verificou-se que a frequência de acidente vascular cerebral [6], hemorragia cerebral subaracnóidea [7], e crise coronária [8], seguem ciclos de sete dias, possivelmente devido à pressão sanguínea que também varia de acordo com um ritmo semanal. A taxa de mitose (divisão celular) no nosso corpo, também segue o ritmo circaceptano, o que torna isto importante para otimizar a administração de medicamentos contra o câncer [9]. Além disso, um ciclo de sete dias foi encontrado no teor de ácido no sangue, nas células vermelhas do sangue, na frequência do batimento cardíaco, na temperatura oral, na temperatura da mama feminina, na taxa entre os neurotransmissores noradrenalina e adrenalina, e no aumento e diminuição do hormônio de enfrentamento do estresse, o cortisol [4, 10, 11].

Para os pesquisadores Susan Perry e Jim Dawson, os ritmos semanais parecem mais fáceis de ser detectados quando o corpo está sob estresse, como quando ele está se defendendo contra um vírus ou bactéria. Por exemplo, os sintomas do resfriado (que indicam que o corpo está se defendendo contra um vírus) passam em cerca de sete dias. Os sintomas da varicela como febre alta e pequenas manchas vermelhas geralmente aparecem quase exatamente duas semanas após a exposição à doença [12]. Os médicos também têm observado que a resposta à infecção da malária e pneumonia atinge o estado crítico em um período máximo de sete dias. Isso não é tudo, pois experimentos envolvendo ratos, moscas, plantas, artrópodes, abelhas, besouros, e outras formas de vida também revelaram ritmos circaceptanos [1, 5, 13, 14].

À primeira vista, pode parecer que o ciclo semanal de sete dias foi herdado por uma cultura humana de milhares de anos atrás [12]. Mas, esta teoria não se sustenta quando se percebe que o ciclo circaceptano ocorre em outros seres vivos além de humanos. Portanto, a Biologia, não a cultura, é, provavelmente, a fonte da semana de sete dias [10]. Aliás, a França (1793-1805) mudou a semana de sete dias para uma semana de dez dias, e a União Soviética (1929-1940) a mudou para uma semana de cinco dias, ambos os países acreditando que os sete dias fossem mera influência religiosa, mas a experiência da mudança terminou em fracasso completo em ambos os países, e a semana voltou ao seu modelo original [15]. Nesse sentido Campbell afirma que, o ciclo de sete dias tem a ver com a lógica interna do corpo, não com a lógica externa do mundo [3]. Para Campbell, a estrutura temporal interna parece determinar a estrutura do tempo exterior, ao invés do contrário. Ritmos de cerca de sete dias surgiram em milhões de criaturas vivas anos antes da semana do calendário ser inventada, o que pode ser a razão pela qual ela foi inventada [3].

Ao mesmo tempo em que existem ritmos diários (circadiano) e semanais (circaceptanos) para determinadas funções biológicas nos seres vivos, também existem ritmos para o descanso. Temos um relógio biológico que determina quando necessitamos descansar. Pesquisas indicam uma associação positiva entre o descanso no sétimo dia da semana e a longevidade humana. Observou-se que, indivíduos que descansam no sábado possuem uma expectativa de vida maior que outros que não o fazem [16, 17, 18]. Os números apontam a um acréscimo de vida de 4 a 10 anos a mais devido o descanso neste dia representar uma forma de gestão do estresse e diminuição da pressão sobre o organismo humano. Em 2014, outro estudo realizado em uma amostra de 5.411 indivíduos revelou que aqueles que descansam no sábado são mais mental e fisicamente saudáveis ​​do que aqueles que consideram este dia como qualquer outro da semana [19].


Embora a ciência moderna necessite de mais pesquisas a fim de validar essas evidências a favor do sétimo dia da semana como o dia ideal de descanso, a bíblia há muito tempo indica um dia abençoado e separado especialmente para satisfazer as necessidades humanas de descanso semanal. Esse dia é, sem dúvida, o sétimo de cada semana, o sábado. O Criador diz: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2:27), por isso ‘Lembra-te do dia de descanso a cada semana’ (Êxodo 20:8-11). Foi quando Ele encerrou o relógio da vida e o definiu assinalando em cada ser vivo um ritmo de sete dias. É o ritmo do projeto ideal, uma sincronia para viver e funcionar de forma saudável como planejado.

(Everton Fernando Alves é enfermeiro e mestre em Ciências da Saúde pela UEM; seu e-book pode ser lido aqui: https://www.widbook.com/ebook/teoria-do-design-inteligente)

REFERÊNCIAS:

[1] Halberg F. Quo Vadis Basic and clinical Chronobiology: promise for health maintenance. Am J Anat. 1983; 168(4):543-594.

 

[2] Hrushesky WJ. Circadian timing of cancer chemotherapy. Science. 1985; 228(4695):73-5.

 

[3] Campbell J. Winston Churchill's Afternoon Nap. New York: Simon and Schuster, 1986.

[4] Levi F, Halberg F. Circaseptan (about-7-day) bioperiodicity--spontaneous and reactive--and the search for pacemakers. Ric Clin Lab. 1982; 12(2):323-70.

 

[5] Meyer-Rochow VB, Brown PJ. Possible natural circaseptan rhythm in the beach beetle Chaerodes trachyscelides white. Acta Neurobiol Exp (Wars). 1998; 58(4):287-90.

[6] Manfredini R, Gallerani M, Portaluppi F, Salmi R, Fersini C. Chronobiological patterns of onset of acute cerebrovascular diseases. Thromb Res. 1997; 88(6):451-63.

[7] Feigin VL, Anderson CS, Anderson NE, Broad JB, Pledger MJ, Bonita R, Australasian Co-operative Research Group on Subarachnoid Haemorrhage Study (ACROSS) and Auckland Stroke Studies. Is there a temporal pattern in the occurrence of subarachnoid hemorrhage in the southern hemisphere? Pooled data from 3 large, population-based incidence studies in Australasia, 1981 to 1997. Stroke. 2001; 32(3):613-9.

[8] Kanabrocki EL, Sothern RB, Bremner WF, Demakis JG, Bean JT, Ringelstein JG, Riley C, Fabbrini N, Crosby TJ, Mermall H, Jane III LHC, Shirazi P, Olwin JH. Weekly and yearly rhythms in plasma fibrinogen in hospitalized male military veterans. Am J Cardiol.1995; 76(8):628-31.

[9] Blank M, Cornelissen G, Halberg F. Circasemiseptan (about-half-weekly) and/or circaseptan (about-weekly) pattern in human mitotic activity? In Vivo 1995; 9(4):391-4.

 

[10] Haus E .Chronobiology in the endocrine system. Adv Drug Deliv Rev. 2007; 59(9-10):985-1014.


[11] Lee MS, Lee JS, Lee JY, Cornélissen G, Otsuka K, Halberg F. About 7-day (circaseptan) and circadian changes in cold pressor test (CPT). Biomed Pharmacother. 2003; 57(Suppl 1):39s-44s.

[12] Perry S, Dawson J. The Secrets Our Body Clocks Reveal. New York: Rawson Associates, 1988.

[13] Mikulecky M, Bounias M. Worker honeybee hemolymph lipid composition and synodic lunar cycle periodicities. Braz J Med Biol Res. 1997; 30(2):275-9.


[14] Schweiger HG, Berger S, Kretschmer H, Mörler H, Halberg E, Sothern RB, Halberg F. Evidence for a circaseptan and a circasemiseptan growth response to light/dark cycle shifts in nucleated and enucleated Acetabularia cells, respectively. Proc Natl Acad Sci U S A. 1986; 83(22):8619-23.

[15] Zerubavel E. The Seven Day Circle. Chicago: Univ. of Chicago Press, 1985.

[16] Buettner D. The secrets of long life. (Cover story). Nat Geogr. 2005; 208:2-27.

 

[17] Buettner D. The Blue Zones: Lessons for Living Longer from the People Who've Lived the Longest. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009.

 

[18] Lee JW, Morton kr Walters J, Bellinger DL, Butler TL, Wilson C, Walsh E, Ellison CG, McKenzie MM, Fraser GE. Cohort Profile: The biopsychosocial religion and health study (BRHS). Int J Epidemiol. 2009; 38(6): 1470–1478.


[19] Superville DJ, Pargament KI, Lee JW. Sabbath keeping and its relationships to health and well-being: A mediational analysis. International Journal for the Psychology of Religion 2014; 24(3):241-256.

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