Por Everton F. Alves
O organismo humano mantém o seu próprio
relógio biológico. Ele possui um ‘ritmo circadiano’ interno de 24 horas que
impulsiona o aumento e diminuição de moléculas nos diversos sistemas do nosso corpo
[1]. Esse relógio também influencia a forma como
reagimos aos remédios. Por
exemplo, a cisplatina, medicamento contra o câncer, é mais eficaz e menos tóxico se for administrada à noite [2]. Adriamicina, por outro lado, é mais
eficiente se for administrado de manhã. Outro fator conhecido é a necessidade
que o ser humano tem de descanso. Nesse sentido, pesquisas afirmam a existência
do ‘ciclo circaceptano’, um ritmo endógeno que exige um descanso a cada sete
dias.
Ambos os tipos de ritmos biológicos são explicados pela
Cronobiologia, um novo campo científico interdisciplinar [1]. Nele, os cientistas percorrem os caminhos dos ritmos e seus
movimentos oscilatórios, sua ligação com o ambiente externo, como as
informações são recebidas e transmitidas através de um mundo pulsante para uma
melhor compreensão da natureza humana. Esta não é uma tarefa fácil, pois a
maioria dos tique-taques de relógios biológicos é difícil de detectar; eles
operam logo abaixo da consciência humana, escondida nas estruturas celulares.
Em relação ao ritmo circaceptano, especificamente, o
cronobiólogo Jeremy Campbell diz que
este é uma das grandes surpresas que surgiram pela cronobiologia moderna [3].
Há alguns anos atrás, poucos cientistas teriam esperado que ciclos biológicos
de sete dias viessem a ser tão difundidos e estabelecidos. A origem desse ritmo
é muito antiga, aparecendo em organismos unicelulares como as bactérias, afirma
o autor. O fundador da cronobiologia, Franz Halberg, encontrou o ciclo de sete
dias em uma alga primitiva (Acetabularia
mediterranea) de supostos cinco milhões de anos na linha evolutiva de tempo
[1]. Devido à semelhança de suas células microscópicas a uma taça de champanhe,
a alga (planta) é popularmente conhecida como copo de vinho da sereia. Quando
esta alga é exposta a horários artificiais alternados de luz e escuridão ao
longo de muitos dias, ela é de alguma forma capaz de traduzir toda essa influência
em medidas de sete dias.
A existência do ritmo circaceptano também foi
observada em um estudo realizado nos Estados Unidos que acompanhou durante
vários anos a excreção de metabólitos urinários em homens saudáveis [4]. Os
resultados deste estudo demonstrou que a excreção urinária de metabólitos
ocorreu em um período exato de sete dias, sugerindo que os ritmos circaceptanos
são realmente endógenos e determinados geneticamente. Ao mesmo tempo, parece que esse ritmo de
sete dias é capaz de responder aos reflexos circadianos do dia e da noite [4-5]. O transplante de órgãos em seres humanos, por exemplo,
também é afetado pelo ritmo circaceptano [4]. Jeremy Campbell explica que
quando um paciente recebe um transplante de rim, há um ritmo de cerca de sete
dias, um aumento previsível na probabilidade de que o sistema imunológico do
corpo rejeitará o novo rim. Um pico principal de rejeição ocorre sete dias após
a operação, e quando um soro é dado para suprimir a reação imune, uma série de
picos ocorre, com o aumento do risco de rejeição, em uma semana, duas, três e
quatro semanas [3].
Ademais, verificou-se que a frequência
de acidente vascular cerebral [6], hemorragia
cerebral subaracnóidea [7], e crise
coronária [8], seguem ciclos
de sete dias, possivelmente devido à pressão sanguínea que também varia de
acordo com um ritmo semanal. A
taxa de mitose (divisão celular) no nosso corpo, também segue o ritmo
circaceptano, o que torna isto importante para otimizar a administração de
medicamentos contra o câncer [9]. Além
disso, um ciclo de sete dias foi encontrado no teor de ácido no sangue, nas
células vermelhas do sangue, na frequência do batimento cardíaco, na
temperatura oral, na temperatura da mama feminina, na taxa entre os
neurotransmissores noradrenalina e adrenalina, e no aumento e diminuição do
hormônio de enfrentamento do estresse, o cortisol [4, 10, 11].
Para os pesquisadores Susan Perry e Jim Dawson, os ritmos semanais parecem mais fáceis de ser
detectados quando o corpo está sob estresse, como quando ele está se defendendo
contra um vírus ou bactéria. Por exemplo, os sintomas do resfriado (que indicam
que o corpo está se defendendo contra um vírus) passam em cerca de sete dias.
Os sintomas da varicela como febre alta e
pequenas manchas vermelhas geralmente aparecem quase exatamente duas semanas
após a exposição à doença [12]. Os
médicos também têm observado que a resposta à infecção da malária e pneumonia
atinge o estado crítico em um período máximo de sete dias. Isso não é tudo,
pois experimentos envolvendo ratos, moscas, plantas, artrópodes,
abelhas, besouros, e outras formas de vida também revelaram ritmos
circaceptanos [1, 5, 13, 14].
À primeira vista, pode parecer que o ciclo semanal de
sete dias foi herdado por uma cultura humana de milhares de anos atrás [12]. Mas,
esta teoria não se sustenta quando se percebe que o ciclo circaceptano ocorre
em outros seres vivos além de humanos. Portanto, a Biologia, não a cultura, é,
provavelmente, a fonte da semana de sete dias [10]. Aliás, a França (1793-1805)
mudou a semana de sete dias para uma semana de dez dias, e a União Soviética
(1929-1940) a mudou para uma semana de cinco dias, ambos os países acreditando
que os sete dias fossem mera influência religiosa, mas a experiência da mudança
terminou em fracasso completo em ambos os países, e a semana voltou ao seu
modelo original [15]. Nesse sentido Campbell afirma que, o ciclo de sete dias
tem a ver com a lógica interna do corpo, não com a lógica externa do mundo [3].
Para Campbell, a estrutura temporal interna
parece determinar a estrutura do tempo exterior, ao invés do contrário. Ritmos
de cerca de sete dias surgiram em milhões de criaturas vivas anos antes da
semana do calendário ser inventada, o que pode ser a razão pela qual ela foi
inventada [3].
Ao
mesmo tempo em que existem ritmos diários (circadiano) e semanais
(circaceptanos) para determinadas funções biológicas nos seres vivos, também
existem ritmos para o descanso. Temos um relógio biológico que determina quando
necessitamos descansar. Pesquisas indicam uma associação positiva entre o
descanso no sétimo dia da semana e a longevidade humana. Observou-se que,
indivíduos que descansam no sábado possuem uma expectativa de vida maior que
outros que não o fazem [16, 17, 18]. Os números apontam a um acréscimo de vida
de 4 a 10 anos a mais devido o descanso neste dia representar uma forma de
gestão do estresse e diminuição da pressão sobre o organismo humano. Em 2014, outro
estudo realizado em uma
amostra de 5.411 indivíduos revelou que aqueles que descansam no sábado são
mais mental e fisicamente saudáveis do que aqueles que consideram este dia
como qualquer outro da semana [19].
Embora a ciência moderna
necessite de mais pesquisas a fim de validar essas evidências a favor do sétimo
dia da semana como o dia ideal de descanso, a bíblia há muito tempo indica um dia abençoado e separado especialmente
para satisfazer as necessidades humanas de descanso semanal. Esse dia é, sem dúvida, o sétimo de
cada semana, o sábado. O Criador diz: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o
homem por causa do sábado” (Marcos 2:27), por isso ‘Lembra-te do dia de descanso a cada semana’ (Êxodo
20:8-11). Foi quando Ele encerrou o relógio da vida e o definiu assinalando em
cada ser vivo um ritmo de sete dias. É o ritmo do projeto ideal, uma sincronia
para viver e funcionar de forma saudável como planejado.
(Everton Fernando Alves é enfermeiro e mestre em Ciências da Saúde pela
UEM; seu e-book pode ser lido aqui:
https://www.widbook.com/ebook/teoria-do-design-inteligente)
REFERÊNCIAS:
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[3] Campbell J. Winston
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