Após ser
refutada pela Psicologia quanto ciência, a ideia evolutiva de Darwin sobre a
nossa consciência e influência a um decisão do meio onde vivemos, conhecido por
esta visão como “tabula rasa”, também mostrada por Locke, através da moralidade
consciente, vemos que nossa consciência moral já nasce pronta, totalmente
constituída num padrão ético numa sociedade sem distinções de culturas ou
religiões, pois os princípios conscientes e inconscientes são do mesmo quadro
para todos, o modo o qual nos diferencia além da subjetividade é o modo que
nossos princípios organizacionais inconscientes se organizam, como podemos ver
no quadro abaixo mostrado por Lacan:
“É que se a ex-sistência se define por relação à certa consistência, se a ex-sistência não é, no final das contas, senão esse fora que não é um não-dentro, se essa ex-sistência é, de certa maneira, esse em volta do que se evapora uma substância [...] nem por isso a noção de uma falha, a noção de um furo, mesmo em algo tão extenuado quanto a existência, deixa de manter seu sentido. Pois se eu lhes disse haver do Simbólico um recalcado, há também no Real algo que faz furo, Freud se deu bem conta, e foi por isso que burilou tudo que há de pulsões no corpo como estando centradas em torno da passagem de um orifício a outro (Lacan, 1974-1975, aula de 14/01/75)”.
Sobre a forma
que venho aqui falar, direto ao ponto, é a falta que o ego nos provoca em nosso
psíquico. A descrença e o desejo insuportável de não aceitar o padrão verdadeiro
ético e moral posto por um Ser superior a nós, é obra das resistências do nosso
inconsciente para não abalar nosso ego, então aqui entra em questão o que
chamamos de “dúvida”. O sujeito que duvida, têm resistências, do ego, na
segunda tópica de Freud, a dar continuidade que podem trazer situações de
desprazeres, como esquecimento e distorções. O que rege isso é semelhante o que
vemos como deficiências intelectuais e racionais. Essa repetição de cegueira
disfarçada como “ah no meu fundo eu sei, mas eu não quero aceitar, não sei por
que, simplesmente não quero pensar que isso seja verdade ou exista”, acarretada
como sintomas do sofrimento psíquico, de forma que chegamos a tão questionada
“falta”.
A falta de
argumentos racionais ligados inteiramente à realidade dentro de uma estatística
de possibilidades tende a singularidade da loucura, por falta de compreensão e
até mesmo a possível cegueira intelectual gerada pela negação de algo que
realmente existe e ainda mais, deixa sinais de sua existência, como características
em perfeita sincronia. Nossa imagem mnêmica mostra o grau de nosso intelecto.
Poucos pensam
nessa conclusão, que crianças são mais inteligentes que nós, pelo motivo de
elas captarem signos e símbolos e os analisar sem preconceitos.
Para Aristóteles
a felicidade é relacionada ao bem Supremo, é o que rege a ética e o que
realmente supera a falta e o sofrimento. Por mais que Freud nos mostrou em 1895
“los Ding”, Platão “tó óvikon” em 300 a.C e Lacan “agálmata” em 1960, o desejo
nunca irá acabar, pois quando conseguimos o que queremos e podemos com nosso
próprio alcance, criamos novos desejos, como nos diz Contardo Calligaris “quero
é ter uma vida interessante, estou afim de algumas coisas, procuro não desejar,
alguém que deseja algo que o nosso potencial não nos permite, mesmo que caçoado
por incrédulos ou ignorantes, o lado simpático dessa ideologia do preparo é que
está subentendida a ideia de que um dia a pessoa viverá uma grande aventura”.
Na eternidade junto com O que nos criou, para irmos à busca de um desejo que
não é dom nosso, que vai além de algo material como afirma Contardo, dado por
um Mestre redentor de cruz, digno de Glória, “pobre é o que busca felicidade no
capitalismo, pois não enxerga os bens eternos”.
Sofrer é sim necessário, é impossível vivermos
sem essa permissão de sofrimento, pois o sofrimento também carrega consigo os
deveres éticos, desejando não sofrer e evitar o sofrimento, estarão negando
valores éticos que nos deixam em boa ordenança. Por esse motivo é que o Cristianismo
dá ênfase no “preparo”, nos mostrando que essa vida e o sofrimento que ela
carrega é apenas um preparo de uma aventura grande e eterna, onde o local dessa
aventura será recompensa do que você fez nesse preparo. Essa transformação para
realizarmos bem esse preparo vem com uma série de perdas e renuncias, então
devemos ter sim desejos, sermos ambiciosos, porém nunca se prender ao
materialismo e ao naturalismo, como dizia Freud.
A
incompreensão dessas ideias nos deixam a breve vaga da angústia, que age de
forma inconsciente do sujeito, muitas vezes vindas por algum trauma ou desejo
que não foi realizado (FREUD, 1921), a vida perfeita é uma verdadeira ilusão,
algo impossível de negar, então os desejos não podem ser o centro de nossas
satisfações, pois sempre estarão em constante troca, o que deve nos mover é o
“preparo”, e sim para uma Eternidade, a vida eterna, esta se encontra em
perfeito modo incondicional, livre de dores ou sofrimentos. Como todos temos
desejos, aqui vai uma dica “não irmos à busca do que não temos, e sim
valorizarmos o que temos”.
Chegando nesse
ponto, a negação de um Ser perfeito, amoroso e imutável, deixa no sujeito uma
angústia inconsciente, por isso que o próprio sujeito nega a todo custo que não
passa por nenhum sofrimento mental, mas a questão é: se nosso inconsciente não
nos é revelado de forma concreta, como podemos saber que não estamos sofrendo?
Bom é simples,
a única forma que nos livra desse sofrimento angustiante, é entendermos o que
realmente somos, quer incrédulos ou céticos, materialistas ou cientificistas,
como dito, o preparo para uma vida além dessa é a única forma que nos dá
satisfação esperançosa, com o sentimento de poder, a certeza de nossa comunhão
com Jesus, o maior Psicólogo que já existiu como afirma Augusto Cury.
É como escamas
caindo de nossos olhos, como um bebê que pela primeira vez abre seus olhos para
ver a perfeita obra de um Criador que anseia por amor ao seu povo. Mesmo dentro
dessa perspectiva, existe ainda sim sofrimento e desejos, mas a questão que
muda é que começamos a ver o que realmente é, pois como afirma Heidegger “o
Ser, É”.
Essa falta que
nos cega psiquicamente por organizações inconscientes, nos traz certo sintomas
ligamos ao sofrimento e a angustia, essa ausência se liga a falta de ética, a
se “preocupar com algo que não existe” como constantemente fazem ateus e
céticos. Que coisa estranha não?! O quadro relativo dos sonhos, mostrando em
regressões equivale à distorção inconsciente dessas afirmações, como uma
psicopatologia no moral e no ético, sintoma ligado ao sentimento do fracasso e
a falta de transferência intelectual, o que poucos Psicanalistas querem
admitir, mas que eles realmente sabem que tudo isso se liga nesse único Ponto
perfeito.
“As
negações de algo óbvio, são falas do inconsciente expressando a angustia e os
distúrbios recalcados”, frase do livro A outra cena. Não saber de algo, é
diferente de saber e não querer aceitar, isso nos indica com uma vida iludida,
acarretando alienações - princípio de afetar o inconsciente - a real melancolia
do espírito e da alma, que estará levando o sujeito a uma aventura eterna
desconfortantemente terrível, esse é o significado de muitos repudiarem a vida
eterna, dando um parecer que sabem do sofrimento futuro. Não, a vida eterna não
é uma cena chata como alguns afirmam, porém em verdade uma vida com fim e sem
propósito é muito pior à, destruir uma relação com o ser humano, uma vida sem
motivo para ser vivida onde o que governa é o sofrimento angustiante da alma,
sem sentido de amar ou fazer o bem.
A
forma desse sintoma angustiante do sofrimento da alma, é solvido e absorvido
por um modo ambicioso dessa grande aventura futura, palavras de Calligaris, nos
mostram que o verdadeiro desejo é aquele que se desprende do naturalismo, e sim
como um pássaro que voa diariamente sem fixar com seus pés em terra, porém ele
pode chegar à algum lugar de bons frutos, ou ficar voando sem destino ou
propósito algum.
Referências:
Lacan, J. (1973-1974). Le séminaire, livre XXI: les
non-dupes errent. Inédito.
Lacan, J. (1974-1975). Le séminaire, livre XXII: RSI.
Inédito.
Miller, J. A. (2000). Os seis paradigmas do gozo. Opção
Lacaniana, 26/27, 87-105. São Paulo: Eolia.
Valas, P. (2001). As dimensões do gozo. Coleção
Transmissão da Psicanálise, 67. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Capítulo VI
"O trabalho do sonho”, Obras Completas, vol. V, Rio de Janeiro, Imago,
1972.
HALL, James. Jung e a interpretação dos sonhos. São Paulo: Cultrix, 1997.
APOA, Psicanálise. A outra cena, FREUD – Recalcamento e
Angústia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário