terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Igreja Primitiva - Eduardo Feltraco



























Quarenta dias depois de sua ressurreição, Jesus deu instruções finais aos discípulos e ascendeu ao céu (At 1:1-11). Os discípulos voltaram a Jerusalém e se recolheram durante alguns dias para jejum e oração, aguardando o Espírito Santo, o qual Jesus disse que viria. Cerca de cento e vinte pessoas seguidoras de Jesus o aguardavam.


Cinquenta dias após a Páscoa, no dia de Pentecoste, um som como um vento impetuoso encheu a casa onde o grupo se reunia. Línguas de fogo pousaram sobre cada um deles e começaram a falar em línguas diferentes da sua conforme o Espírito Santo os capacitava. Alguns dos observadores estrangeiros perguntaram o que deviam fazer para receber o Espírito Santo. Pedro disse: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo " (At 2:38). Cerca de três mil pessoas aceitaram a Cristo como seu Salvador naquele dia (Atos 2:41).

Durante alguns anos Jerusalém foi o centro da igreja. Muitos judeus acreditavam que os seguidores de Jesus eram apenas outra seita do judaísmo. Suspeitavam que os cristãos estivessem tentando começar uma nova "religião de mistério" em torno  de Jesus de Nazaré. De modo que os cristãos primitivos proclamavam com ousadia haverem herdados os privilégios  que Israel conhecera outrora. Não era simplesmente uma parte de Israel - era o novo Israel (Ap 3:12; 21:2; Mt 26:28; Hb 8:8; 9:15). Os líderes judeus tinham um medo de arrepiar, porque este novo e estranho ensino não era um judaísmo estreito, mas fundia privilégio de Israel na alta revelação de um só Pai de todos os homens.

A igreja é composta por aqueles que se submeteram ao senhorio de Jesus. Na língua original do NT, o termo igreja (ekklesia) significa “chamados para fora”, aludindo à saída do povo que nas cidades gregas eram convocados para sair de suas casas para se reunir em assembleias populares. Em nossa língua “Igreja” (do latim, eclesia) significa um ajuntamento ou reunião de pessoas. No Novo Testamento a palavra é citada 115 vezes, sendo que a primeira vez foi Jesus quem a mencionou, no texto de Mt 16: 18.

“Chamados para fora” é um significado que liga a Igreja a um clima missionário. Em João 15: 16. Jesus começa explicando que não fomos nós quem escolhemos a Ele, aludindo à incapacidade humana para enxergar os planos de salvação divina. Em seguida Ele declara que nos escolheu, confirmando o que fora feito aos discípulos. Por último Ele, então, explica que nos designou para que fôssemos e déssemos frutos e estes frutos permanecessem.

Quando Ele diz que nos escolheu, Ele está nos “chamando”, quando diz que fez isto para que fôssemos, Ele está nos tirando para fora de nossas casas ou de nossos aconchegos pessoais, quando Ele diz que esta saída era para dar fruto, está confirmando que a Igreja é chamada para a maior tarefa de todos os tempos: levar avante o evangelho a toda a terra, antes que venha o fim, Mt 24: 14.

Depende o que vamos entender por Igreja porque, se eu estou fazendo algo para Jesus, sem convicção do meu empenho, então estou enganando a mim mesmo e me deixando lesar tolamente. Preciso saber onde estou com os pés e que concepção tenho de Cristo, antes de querer que os outros saibam sobre ele. Duas frases que particularmente gosto muito sobre este tema, está logo abaixo.

“PLANTE UM PENSAMENTO E VOCÊ COLHERÁ UM ATO; PLANTE UM ATO E VOCÊ COLHERÁ UM HÁBITO, PLANTE UM HÁBITO E VOCÊ COLHERÁ UM CARÁTER; PLANTE UM CARÁTER E VOCÊ COLHERÁ UM DESTINO.”

“O melhor remédio para a igreja enferma é pô-la em dieta missionária” (David Brainerd). 

Enfatizando aqui uma parte do livro de Atos, aonde vemos o envolvimento total dos cristãos nos capítulo 5 e 6. A igreja de Jerusalém era uma família, de modo que as necessidades de cada irmão eram supridas e havia cooperação de todos os membros para ajudar os apóstolos, At 6: 1-3. Instituíram o diaconato, escolhendo para tal função homens que deveriam possuir três requisitos básicos: bom testemunho (aspecto social), serem cheios do Espírito Santo (aspecto espiritual) e de sabedoria (aspecto intelectual). Para os apóstolos ficaram reservadas a prática da oração e da pregação da Palavra, At 6: 4. Toda a igreja era, então, completamente envolvida com a obra de Deus.

O que podemos extrair da perseverante comunhão daquela igreja é a praticidade. Vemos no texto que a comunhão estava tomando contornos reais, tanto em momentos agradáveis, nas refeições que faziam em conjunto (At 2:46), como também nas horas difíceis em que uns precisavam dos recursos dos outros (verso 45), significando que a comunhão foi levada às últimas consequências, pois, para aqueles cristãos, a necessidade e o sofrimento de um membro eram inadmissíveis. Que lição para os nossos dias, onde o amor cristão, muitas vezes, não passa de expressão litúrgica, demonstrada apenas na hora e ambiente de culto.

Os Atos dos Apóstolos também nos apresentam a ação missionária da Igreja como continuação fiel da ação de Jesus. Não apenas os discípulos fazem as mesmas coisas que Jesus faz, mas o mesmo Espírito de Deus que conduzia Jesus guia agora a Igreja. O Espírito remete continuamente à Palavra, ou seja, à vida e às palavras de Jesus testemunhadas pelos discípulos. O Espírito Santo é quem nos faz compreender e interpretar retamente a mensagem do Evangelho.

Quanto ao espírito que deve nos mover nessa ação é aquele mesmo dom que só o Espírito Santo nos pode dar: o amor. "A tal respeito, as palavras do Senhor são tão precisas que não é possível reduzir o seu alcance" - diz o Papa João Paulo II. "A Igreja terá necessidade de muitas coisas para a sua caminhada histórica, também no novo século; mas, se faltar o amor (ágape), tudo será inútil. O apóstolo Paulo recorda-o no hino à caridade: Ainda que falássemos as línguas dos homens e dos anjos e tivéssemos uma fé capaz "de transportar montanhas", mas faltasse o amor, de "nada" nos serviria (1 Cor 13:2).

Naqueles primeiros anos da Igreja, a comunhão dos cristãos foi ameaçada pelas tensões internas, e pela tentação de aderir a métodos e maneiras não cristãos. Mesmo assim esses membros da Igreja neotestamentária deram testemunho da realidade experimentada da magnífica "vida-de-koinonia" em presença do poder do Espírito Santo. Quando as dissensões entre os irmãos pareciam ameaçar essa vida coletiva, o apóstolo Paulo podia confiantemente implorar que "preservassem a unidade do Espírito no vínculo da paz" (Ef 4:3).

Os membros da Igreja primitiva "perseveravam... na comunhão" (Atos 2:42). A palavra aqui usada em o Novo Testamento é koinonia que é no grego é uma palavra rica de sentido e vigorosa. Do ensino geral do Novo Testamento, aprendemos que esta palavra, que tão bem descreve aquela qualidade de vida da Igreja, tem muitos significados. Refere-se ao direito comum de propriedade, bem como a coparticipação de bens, como foi o caso da coleta para os cristãos pobres de Jerusalém.

Prisões e sofrimento fizeram parte da vida dos apóstolos. Dados históricos e informações preservadas pela tradição antiga referentes ao que ocorrera com os apóstolos e outros importantes líderes do cristianismo, nos ajudam a entender que o compromisso com o caminho da cruz foi levado até as últimas consequências. Muitos foram submetidos ao martírio por causa do evangelho de Cristo. A igreja estava constantemente em oração. As orações tinham um papel fundamental na vida da Igreja Primitiva. Isso pode ser claramente percebido pelo relado deixado por Lucas, que diversas vezes considera as orações dos primeiros cristãos. Em Atos podemos ver que a oração foi à atitude dos cristãos diante das decisões a serem tomadas, a atitude da liderança da igreja em situação de crescimento e a prática da igreja quando estava em situação de perigo e perseguição.

Em muitas Igrejas da atualidade vemos que pessoas têm procurado as igrejas evangélicas para obter benefícios materiais apenas e esquecem-se do que é de fato a igreja. O amor ao dinheiro tem corrompido a igreja. Hoje o que é mais visado é a quantia com que as pessoas podem receber de Deus indo a Igreja do que ofertar e até mesmo servir ao Senhor de coração.

A igreja primitiva era uma igreja fiel. Esperava em Deus e fazia o que Deus queria. Deixava que o Senhor lhes desse as almas e ao mesmo tempo obedecia a vontade do Senhor pregando, ensinando, orando, louvando, temendo, compartilhando e participando do ministério da reconciliação, à qual a igreja é despenseira.  Dom Robinson Cavalcante, Bispo anglicano no Recife (PE), afirma que a igreja tem como missão ser proclamadora, que ensina e relacional. Acrescento aqui a expressão  serva e didática (Atos 2:42; 1 Coríntios 4:1-2) era tudo o que se via na igreja do primeiro século. Era o êxito da igreja primitiva. Podemos resgatar esta igreja, afinal o Senhor dela é o mesmo. Temos o Espírito Santo e a Palavra de Deus não está morta. Portanto, podemos ser uma igreja bíblica, profética, relacional, despenseira, acolhedora, terapêutica, plena, intercessora, carismática, temente, testemunha, adoradora, saudável, espiritual, solidária, amiga, perceptível, ética, cristocêntrica, impactante, relevante e crescente.

Os Reformadores Martinho Lutero e João Calvino e pregadores históricos, como Willian Perkins e George Whitefield, enfatizaram a responsabilidade da igreja como ouvinte privilegiada da Palavra de Deus. Entendiam que os frutos na vida dos crentes surgiriam se a Palavra fosse ouvida com anseio, fé, mansidão, disposição, paciência, submissão, sinceridade, motivação e com aplicação pessoal. Uma igreja que ouve a Palavra de Deus é uma igreja que cresce saudavelmente.

O que deve se destacar numa Igreja hoje é a separação do mundo. Quando não se pode ver uma distinção clara entre a igreja e o  mundo, então, a igreja não pode considerar-se como a verdadeira Igreja cristã. Os ensinos do evangelho de Cristo se opõem diretamente à natureza humana. “A amizade do mundo é inimizade contra Deus”; (Tiago 4:4). A igreja de Cristo, sendo tão santa e pura, mostrará a sua separação do mundo em seu modo de viver, de falar, de vestir-se e ainda em seu pensar. (Romanos 12:1-2).

Algumas práticas da Igreja primitiva podem sim envolver em nossos dias:

Audição da Palavra de Deus. A perseverança na doutrina dos apóstolos acontecia tanto por meio da leitura dos registros do Antigo Testamento e do Novo Testamento (cujos fragmentos começaram a circular já naquela época), como também das tradições orais que eram aqueles ensinos que os apóstolos receberam de Jesus e que memorizaram para transmitir aos fiéis. Atentemos para quantos resultados alcançados naquela comunidade cristã primitiva! Conversões em massa, despertamento de fé e temor, batismos... E tudo por causa da Palavra de Deus que era devidamente ouvida e obedecida. Não é por menos que Paulo declara que “a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus” (Rm 10:17). Se quisermos aprender com a igreja primitiva o êxito de sua fé e perseverança, precisamos atentar para a importância que àquela comunidade dava à pregação apostólica, ouvindo-a.

A Prática da Palavra de Deus. Além do conhecimento das Escrituras e do interesse em ouvir a pregação da Palavra de Deus, também observa o que a comunidade primitiva estava fazendo com tudo aquilo que lera e ouvira. Afinal, os resultados eram nítidos: conversões aconteceram, batismos foram ministrados, a comunhão era vivida, os bens excedentes eram partilhados, as necessidades, supridas, orações eram dirigidas a Deus, reuniões no Templo e nas casas eram frequentes, o louvor brotava dos corações, o testemunho era impressionante e envolvente, Deus era adorado, Jesus Cristo, exaltado, o Espírito Santo, conhecido, a evangelização acontecia, a Igreja crescia.

O fundamento da especial comunhão que os crentes primitivos tinham uns com os outros era a íntima relação que desfrutavam com Jesus Cristo. Cristo era o elo que os unia e tal relação se tornou possível com o derramamento do Espírito Santo, pois Ele veio fazer morada permanente nos corações remidos. A fé sem obas é morta afirma Tiago, nosso coração e nosso ser deve ser vazio de nós mesmos, para assim podemos permitir que Deus inunde nossa vida da Graça e direção divina.

Em outras palavras, o testemunho do amor de Deus, em humilhação e morte de seu Filho Jesus Cristo, foi tão poderoso que rachou de alto a abaixo aquela barreira formidável que impedia a comunhão humana. Desse momento em diante o Povo escolhido de Deus já não estava mais circunscrito à nação judaica, mas a esse Povo podiam pertencer todos os homens e mulheres que em qualquer parte aceitassem o Evangelho e confessassem Jesus Cristo como Senhor. Pela morte de Cristo as barreiras de culto, classe, e raças terminaram. Há na comunidade cristã lugar para todos os que têm fé. Paulo declarou: "Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3:28).

A Igreja é um lugar de Ação Social. Lamentavelmente, a igreja, às vezes, fica apenas com as palavras e se esquece de sua missão integral. Pregava o Reino de Deus e manifestava a presença do mesmo entre os homens através do cuidado mútuo. Para àqueles cristãos era inadmissível um dos seus padecer necessidades. A igreja primitiva entendeu bem esta realidade e lutava pela estabilidade de todos os membros da comunidade. Que maravilhosa lição. O Senhor Jesus Cristo ordenou aos discípulos que se entregassem como instrumentos de Deus para aliviar o sofrimento do próximo (Rm 15:25-27, 1Co 16:1-4).

A Igreja primitiva era uma igreja em movimento e isto era absolutamente novo para os judeus. Novo, porque o judaísmo propunha uma forma centralizada de adoração e serviço a Deus no Templo de Salomão, em Jerusalém, na Lei, no sábado e no sacerdócio levítico. Estas expressões eram colunas fundamentais da fé judaica. A igreja primitiva, de alguma maneira, entendeu que sua atuação no mundo deveria ser diferente e livre destes fundamentos mundanos. Aprendamos como a igreja discerniu sua atuação e suas implicações para a época e também para hoje. A Igreja primitiva acontecia todos os dias. Adorava todos os dias. Pregava todos os dias. Temia a Deus todos os dias. Consequentemente, crescia todos os dias (At 2:47). Era uma igreja em movimento.

Desta forma, a igreja primitiva podia oferecer um culto vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12:1), pois a perspectivas corretas da relação com o Senhor eram cultivadas pelos irmãos. Deus recebia o louvor, pois vinha de homens justificados pela fé, tementes e felizes no que faziam ao Senhor dos Senhores. Alegria e temor. Intimidade e respeito. Contentamento e reverência. Uma maravilhosa combinação para resgatarmos.

Lendo o livro de Atos dos Apóstolos, vemos uma união e uma entrega tremenda. Desde o primeiro paradigma do século VII a. C da Filosofia descrito por Heidegger, até o terceiro 1500 d. C até hoje, o homem se separou da Verdade posta por Deus, e isso fez com que ficássemos independentes de tudo, egocêntricos, lutando para ver quem tem poder que o outro.

Tanto o mundo quanto a Igreja hoje se encontram em caos por ter o homem se colocado como centro da verdade. Vemos que não é bem assim, isso que acarretou essa desunião. Depende de nós agora partirmos para um quarto paradigma chamado de Intersubjetividade, onde é valorizado o trabalho e união coletiva, e não o individualismo. Sujeito em parceria com a Paz, mas não esquecendo, sujeito em busca dos valores da Verdade Absoluta deixada para trás graças ao nosso egocentrismo. Nossa meta é deixar Cristo e Sua Verdade ser o centro de nossa vida, e o centro de Sua Igreja, mas vemos muito pessoas, falsos lideres e falsos pastores substituindo este lugar, colocando como centro a capacidade falha, pecadora e limitada do ser humano. Nunca deixaremos de perseverar para reconquistar o que nossos antepassados começaram, sendo que eu e você, acabamos com essa bela e maravilhosa comunhão.

Certo dia um jovem disse: "Aquela é a igreja dos meus sonhos", e o seu velho pastor lhe respondeu: "Meus parabéns, meu jovem, você vai para a igreja dos teus sonhos, mas faça daquela igreja a igreja dos sonhos de Jesus".

1 - Jesus sonhou com uma igreja que encarnasse o seu amor (Jo 15:12-17)

2 - Jesus sonhou com uma igreja que encarnasse sua Palavra e por ela vivesse (I Ts 1:7-8)

3 - Jesus sonhou com uma igreja que, santificada, prestasse culto somente a Deus (Rm 12:1)

4 - Jesus sonhou com uma igreja que fosse uma comunidade redentora (At 2:37-38, 47)

5 - Jesus sonhou com uma igreja que se multiplicasse, a partir de Jerusalém (At 1:8) 

Jesus sonhou com uma igreja que ama, obedece, adora, evangelizar e que chega até aos confins da terra. Sejamos a igreja sonhada por Jesus. Este é o sonho deste jovem pastor. Que Deus abençoe nossas Igrejas e abra nossos olhos para este princípio esquecido por muitos.





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